8 de maio de 2024

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Galpão indústrial onde funcionava fábrica da Ford em Fordlândia, atual distrito do município de Aveiro | Foto: Shutterstock

Expedição Transamazônica visitou a antiga fábrica de borracha construída por Henry Ford no fim dos anos 1920 na colônia agroindustrial que ganhou o nome de Fordlândia | Foto: Shutterstock

Escola de ar automotivo desbrava história industrial do Brasil

Expedição educativa passa por Fordlândia e Belterra, cidades que Henry Ford construiu e abandonou na Amazônia

A equipe da Expedição Transamazônica, jornada de palestras técnicas gratuitas para refrigeristas do setor automotivo organizada pela oficina e escola paulistana Super Ar, também aproveitou o percurso até Altamira (PA) para visitar duas ex-vilas industriais históricas da Amazônia.

A primeira parada ocorreu em Fordlândia, seis dias após a road trip educativa partir da capital paulista rumo ao maior bioma brasileiro. Na antiga colônia operária, hoje um distrito do município paraense de Aveiro, o grupo conheceu o local de nascimento do megaprojeto utópico do magnata americano Henry Ford.

Foi lá que o empresário decidiu erguer, em 1927, uma colônia agroindustrial na selva para extrair o látex e produzir a borracha usada em pneus e peças como juntas, mangueiras e válvulas dos automóveis de sua marca fabricados nos EUA.

Àquela época, a companhia fazia tudo o que era empregado em seus carros, mas a produção de borracha era controlada pelos europeus, que estabeleciam o preço do produto produzido em suas colônias.

Conforme ressaltam Philip Gun e Telma de Barros Correia, autores do artigo A industrialização brasileira e a dimensão geográfica dos estabelecimentos industriais, “além das instalações industriais para o processamento de látex em estado natural, alojamentos residenciais para os operários, instalações urbanas ao lado da fábrica e outras vilas menores” foram construídos em Fordlândia.

A pequena cidade paraense de Belterra ainda preserva construções que remetem a cidades do interior dos EUA | Foto: Nando Costa/Pauta Fotográfica

A gleba, concedida à Ford pelo governo paraense com a isenção de taxas de exportação sobre qualquer produto extraído ou produzido lá, tinha ainda hospital, hotel, piscina e playground, além de serraria, usina de energia e um campo de golfe.

Todavia, a terra, localizada entre Itaituba e Santarém, na margem esquerda do rio Tapajós, era infértil e pedregosa. Para piorar, nenhum dos gestores da multinacional possuía experiência em agriculttura tropical. Isso, particularmente, resultou no plantio incorreto das seringueiras e, consequentemente, ajudou a espalhar o fungo Microcyclus ulei, causador do mal das folhas, a pior doença que afeta a planta.

A praga agrícola levou o fabricante a transferir, em 1934, a produção para o atual município de Belterra, a 300 quilômetros ao norte de Fordlândia e a 20 quilômetros de Alter do Chão, um dos destinos turísticos mais bonitos do Brasil.

Na nova localidade, a indústria americana construiu um núcleo urbano planejado com edificações feitas de madeira, bastante semelhantes ao estilo arquitetônico do interior dos EUA. Dessa segunda vez, no entanto, a investida de Ford foi mais cautelosa – botânicos e outros especialistas foram contratados para cuidar das árvores e do solo, por exemplo.

A pequena cidade paraense de Belterra ainda preserva construções que remetem a cidades do interior dos EUA | Foto: Nando Costa/Pauta Fotográfica

“Os métodos de produção americanos (sem a norma de remuneração diária de seis dólares) e os melhoramentos da Ford nas regras de administração de Henry Winslow Taylor foram aplicados, e outras peculiaridades da legislação americana, como a proibição de consumo de álcool, foram impostas. Entretanto, a produção em Belterra foi afetada pela mesma praga do primeiro assentamento e, no final da década de 1930, não podia mais competir com plantações de seringueiras alternativas na Ásia”, explicam os pesquisadores.

“A pá de cal no empreendimento veio com o declínio da produção do látex brasileiro e o advento da borracha feita de petróleo, que acabou substituindo o produto natural. Foi assim que o fantástico, mas inviável, sonho de Ford na floresta amazônica acabou oficialmente em 1945”, lembra o professor Sérgio Eugênio da Silva, responsável pelo projeto de educação ambiental da Super Ar.

O docente salienta que a expedição sobre quatro rodas, promovida entre 5 e 20 de setembro, “porporcionou à equipe aprendizados únicos sobre a vida selvagem, a história e a cultura das populações locais”.

“Essa foi a segunda edição do nosso projeto, que tem como propósito principal reforçar a importância da implementação da Emenda de Kigali no Brasil e da sustentabilidade na indústria automotiva, disseminando entre os mecânicos novas tecnologias e boas práticas, como o recolhimento e a reciclagem dos fluidos refrigerantes durante as manutenções”, acrescenta.

Os engenheiros mecânicos Rogério Seawright e Sérgio Eugênio da Silva em Fordlândia | Foto: Nando Costa/Pauta Fotográfica

Fonte: Blog do Frio